sábado, 31 de março de 2012

Depois da tempestade...

A razão do meu atual afeto tem nome. Começa com A, como Arnaldo, por exemplo. Sustenta um jeito simples e inteligente de levar a vida. Tem dois filhos. Um casal. Um com 4 e outro com 3 aninhos. O mais velho levou seu nome, mas queixou-se de arrependimento: não carrega o sobrenome Filho. Ele queria isso. Se orgulharia disso.

Ele é alto, magro, sorriso largo. Lindo sorriso. Sorri com os olhos. E fala com os lábios. E com os olhos também. E fala e ri ao mesmo tempo e de um jeito único. Mentira. Já vi esse sorriso-olhos em outro afeto do passado. Mas passou, né?? Não cabem mais semelhanças. Um cheiro maravilhoso. Um  beijo daqueles. Me lembra essa atual novela das 7.

Ah, só mais uma por favor... ok, prometo não explorar tanto... eu e essa mania de querer ver no outro, o outro, aquele que me rejeitou e partiu sem sequer me dizer ADEUS. Antes que eu siga e apenas anuncie um FUI, preciso que saibam que eles dois se parecem demasiadamente. São espontâneos, joviais, espirituosos, dengosos, além de uma forma especial de dizer as coisas com uma tranquilidade e uma paz, absurdas.

Estar ao lado dele, digo, deles dois, me pareceu a mesma coisa. O passado no presente outra vez. Mesma sensação de paz, de aconchego, de ninho. De prazer na medida, sem holofotes, estardalhaços ou seduções baratas.

Mas há algo que o diferencia do anterior. E é isso que mais tenho gostado nele. Além de ser honesto e admitir o tumulto que é sua vida e que ainda assim me quer bem perto, ele carrega um apartamento em seu carro!

Nele, você encontra de tudo. Eu observei cada milímetro do que havia no banco de trás, na frente, nas gavetas... não me arrisquei a ver o que continha no porta-malas. Tive medo de me deparar com algo muito inusitado, a ponto de ficar vermelha ou sem graça. Mas pude ver pares de sapatos, gravatas, camisas, um sabonete ainda fechado, um pote de margarina. De abridor de garrafas a absorvente íntimo. Algo extraordinariamente louco.

Ele é assim. Adora ser assim. Acha divertido viver colecionando utilidades diversas, para fins diversos. Depende apenas do desejo de quem estiver ao seu lado. "Uma cerveja? Ah, pega no isopor... e, ali na frente, se quiser, tem copo descartável e taças também, caso não goste de beber em copos de plástico."

Pode uma coisa dessas? Posso ficar pesada, ao lado de uma criatura dessa? Não. Jamais.

Me contou que ter uma casa, dentro de um automóvel, lhe rende muitas situações hilárias envolvendo caronas, lavadores de carro, e que já teve até que conservar o carro sujo, por dentro, tamanha a parafernália de tranqueiras que carrega, e sem nenhum peso na consciência. Peso mesmo, só em seu carro, que se tivesse que pagar multa por excesso, estaria endividado para todo o sempre.

O meu novo affair sabe fazer muita bagunça e sabe resolver muita coisa. Ele é quase um Magaiver, aquele, daquele seriado lá do passado. Com diálogo simples, direto, com atitude.

"ah, a atitude dele... ah, isso, meu ex-bem, você nunca teve comigo".

E, depois de tanta chuva em meus dias, eu sinceramente não imaginava  ter o sol de volta, com um sorriso lindo nos olhos, só pra mim. Passados alguns meses de muita trovoada, relâmpagos, apagões, enxurradas de lágrimas, entendi, com o novo, que me livrei do peso do passado.

Agora carrego outros pesos, no carro de um homem cheio de histórias, divertido, com seu cheiro bom, e beijo gostoso, com "a letra A, do seu nome", como me diria Nando Reis. Pois é.. a bonança me chama. Tenho que ir. FUI.


sábado, 17 de março de 2012

Na madrugada

A madrugada se faz curta. Há tanta coisa por dizer... Lembrança sublime, saudade, vontade de se ver, se tocar.
Mas o medo venceu o desejo e a razão sobrepôs a emoção.
Almas paralisadas. Uma história interrompida e corações despedaçados.
Cada um vivendo a mediocridade de seu cotidiano, estampando no rosto uma felicidade fictícia.
Não há mais espaço para a dúvida.
E ainda que amanheçam palavras românticas, despertando sentimentos adormecidos, as lembranças de um romance que não vingou só rendem mais frustrações.
Um amor sufocado que insiste em não morrer.

E esses versos dos Paralamas parecem ecoar:

"Por mais que eu pense
Que eu sinta, que eu fale
Tem sempre alguma coisa por dizer
Por mais que o mundo dê voltas
Em torno do sol, vem a lua me
Enlouquecer
A noite passada
Você veio me ver
A noite passada
Eu sonhei com você"

quinta-feira, 8 de março de 2012

Fogões à parte, mais amor, por favor!

Natural começar um texto com uma súplica! Logo hoje, no dia internacional da mulher, uma mulher é quem AINDA precisa suplicar por mais amor, por favor!

Natural, por que? Por que os homens não assumem essa tarefa árdua? Por que os homens não tomam pra si o embate por relações mais amorosas que sexuais? Por que os homens não começam a ditar as mesmas regras que nós, mulheres... e que de agora em diante "sexo, só se for com [camisinha e] amor"?

Indignada. Não consigo mais conviver com tantas responsabilidades. Tantas obrigações. Tantas habilidades. Tantas competências a apresentar!

Parece que a mulher conquistou os postos de trabalho, melhores salários, lugar ao sol nas empresas e fábricas, na informática, na medicina, nas engenharias, na política, nas forças armadas, no jornalismo, no volante, e em tantas outras esferas inimagináveis. Avançamos, mas só um pouco. As mulheres negras, muito menos.

E sem considerar a exceção, via de regra, em casa, a ala feminina é  quem ainda conduz a cozinha, quem é responsável pela limpeza, e também quem sabe programar uma máquina de lavar ou estabelecer uma rotina decente.

Tudo isso ao mesmo tempo. A unha precisa estar sempre impecável, a pele uma seda, os pêlos invisíveis, os fios brancos inexistentes, o hálito refrescante, a cabeça com cabeleira linda e cheirosa, e, obviamente, em dia com as principais notícias, o filho cuidado e sem neuroses e traumas, e além de tudo isso, o melhor sexo do mundo, com direito a novidades sob os lençóis, pra deixar o cabra amarrado. Na cama e nos seus sedutores decotes.

Hoje um colega brincou no facebook e postou um Feliz 8 de Março simplesmente com a imagem de um fogão. Eu curti a brincadeira. Não posso crer que ele leva a sério. Ou é tão sério, que parece irônico? Não sei. Não achei engraçado. Curti porque achei a ironia adequada, tendo em vista o mundo feminino se descabelar pra dar conta do mundo do trabalho, das finanças, além das tarefas do lar, com perfeição, sob pena de perder seu amado marido para a vizinha ordinária, solteira e disponível.

É assim que essas ditas donas de casa moderninhas, com  seus lares perfeitos e maridos infiéis pensam que estão ajudando a construir a imagem da mulher independente, antenada com os avanços da ciência e das tecnologias.

Vivem assim: controlam as contas de e-mails, dos torpedos e ligações. Rastreiam camisas e golas e vasculham nos carros vestígios outros, que lhes indiquem que outras estão brincando com seus brinquedos. Seguem desconfiadas, subjugadas, transando sem vontade, brigando dia sim, dia não, mordendo e assoprando, mas firmes na ideia fixa de continuarem casadas. Onde está o avanço, mesmo?? Comemorar o que, mesmo?

Ou o contrário. Elas fazem de conta que não são traídas, vista grossa e caras de paisagem para as puladas de cerca dos seus maridinhos, caras de madeira, enceiradas com óleo de peroba dos bons. Seguem incrédulas, infelizes, na solidão tipicamente a dois (ou a três?), transando com vontade, desejando muito que os maridinhos voltem a se apaixonar por elas. Onde está o avanço, mesmo?? Comemorar o que, mesmo?

Ou de outro jeito. Sabem que foram e continuam sendo traídas e resolvem dar o troco. Aquela velha máxima  "toma lá, dá cá". E no meio do caminho se perdem, se apaixonam, se decepcionam, se frustram e seguem perdidinhas sem saber pra onde seguir, por que seguir e o castelo bonito com jardim bonito fica insosso. O sexo ganha ares de cinema. Cada um com sua fantasia mais recente. E seguem os dois, com dois mundos paralelos. Infiéis e nada parceiros. Onde está o avanço, mesmo?? Comemorar o que, mesmo?

Ou nada disso. Uma mulher experiente se apaixona por um homem experiente. Separam-se verdadeiramente das suas histórias anteriores. Namoram, viajam juntos, fazem muito sexo com [camisinha e] amor. Decidem seguir juntos e parceiros, mas morar em  casas separadas. Cada um com seu ritmo, suas contas, suas neuras. Cada um com suas receitas de assados e de amor. Cada um com sua pia. Lógico, cada um com seu fogão.

Pensando nesses termos, sim, dá pra pensar em comemorar o dia em que a mulher vai ser igual, em gênero e em intenções amorosas.