terça-feira, 28 de junho de 2011

Direto do cais

Viva, mas não sonha demais, Alice!
Era isso mesmo que eu gostaria de ser. Pensei, pensei, pensei. Era um marinheiro que eu deveria ser. Primeiro, ter me formado na marinha, e depois, conquistar vários portos. Em cada um, um amor. Em cada partida, um choro de alguém com saudade. Em cada chegada, um reencontro cheio de emoção, muito amor, sexo, e alegria no ar, digo, no mar.

Deve mesmo ser bom ser marinheiro. Imagina só: viver de acordo com a cultura, com os hábitos, sem amarras, sem âncoras, sem culpas. Se tiver de partir, partida autorizada. Se tiver de voltar, retorno autorizado. Ninguém cobra, ninguém persegue, ninguém acha estranho esse ir e vir.

Claro, a mulherada deve reclamar dos seus amores marinhos. Devem requisitar as suas presenças. Devem sofrer imaginando se eles de fato sustentam e validam a lenda de "paracadaportoumamor". Mas, venhamos, deve ser uma delícia ter essa liberdade consentida; poder desfrutar da liberdade de amar cada lugar, ou cada relação, como se fosse única, especial, pra toda vida.

Sei. Nada é para sempre. Há homens comprometidos que levam vida de marinheiros. Vivem as oportunidades que as baladas repetinas ou noites sombrias em filas de supermercados lhes presenteiam. E agem como marinheiros: contam suas histórias cheias de páginas arrancadas ou cortadas. Sugam as informações das alminhas carentes. E quando o dia amanhece, ou a fila termina, simplesmente desaparecem, saem à francesa, banalizando as situações extraordinárias que inventaram e se fartaram.

Não. Se eu fosse um marinheiro, talvez não enganasse ninguém. Talvez não quisesse validar a lenda de "paracadaportoumamor". Talvez alguém me ancorasse. Romântica que sou, não haveria outros mares a serem navegados ou conquistados. O meu amor teria jeito de homem normal, sem histórias, sem mistérios, sem saídas à francesa. E ficaria comigo, à beira-mar, em alto-mar, ou nas marés baixas, que somam a  maior parte dos nossos dias.

Sendo ou não marinheiro, vamos cantar! Lamentar nem adianta muito. E está decretado: mar de lágrimas para nenhum marinheiro. Quem sai à francesa ou mente, não merece uma mísera gota d'água, muito menos dos nossos olhos.


sábado, 18 de junho de 2011

Um novo amor chegou...

Um novo amor (ainda) não chegou, mas quem sabe está vindo aí, afinal é junho, mês de Santo Antônio, mil possibilidades de um novo amor chegar! Exercitando o pensamento positivo, ainda queria que fosse parecido com Zé Renato ...



Um novo amor chegou
Azulando meu peito na barra do dia
Dissolvendo o sereno da melancolia
Reabrindo o botão milagroso da flor
Um novo amor chegou
Enchugando meu pranto no vento da tarde
Carregando a lembrança, a tristeza, a saudade
Apagando em minh'alma o vestígio da dor
Um novo amor chegou
Acendendo meu corpo na boca da noite
Perfumando meu ventre na água da fonte
Clareando em meus olhos a luz e a cor
Um novo amor chegou
Me levando em silêncio pela madrugada
Eu só quero seguir seu caminho na estrada
E dormir na morada do meu novo amor
Um novo amor chegou, iluminou
Como o clarão da aurora
Beijou meu coração, adormeceu
E não vai mais embora

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Esqueça a propaganda




Não há o que falar mais...

sábado, 4 de junho de 2011

"Segredos de liquidificador"

"...você sonhava acordada.."
Sempre ouvi dizer que paixões avassaladoras não tem hora e dia certo para acontecerem. Sempre ouvi dizer que encontramos um novo amor ao acaso: numa fila de supermercado, num posto de gasolina, numa livraria, numa esquina, num carnaval, já quando a quarta de cinzas está por perto. Nunca ouvi dizer que encontramos um par ideal, daqueles de provocar suspiros e torcermos para encontrá-lo nos dias seguintes, em uma balada. Na noite, encontramos aventuras, ilusões, bebedeiras e muita, muita ressaca.
Posso parecer repetitiva e óbvia demais, mas é justamente sobre um encontro desses, nas baladas da vida, que quero narrar para vocês, leitores assíduos e sedentos por diversão, nesse cantinho miúdo e despretencioso da net.
Eu tenho uma triste mania, que parece um mantra, quando digo "hoje eu vou beber". Quem está ao meu lado, sempre solta um "ai, meu deus, lá vem turbilhão de emoções ou confusão das brabas!"; eis uma pura verdade. Sempre me meto em enrascadas quando resolvo apelar pra cervejas, drinks, espumantes e afins.
Era uma noite de sexta-feira. Tinha tido uma semana difícil, cheia de compromissos e prazos para cumprir no trabalho. Não estava com vontade de descansar. Pelo contrário. Queria exaustão, a ponto de querer ver o outro dia chegar sem queimar pestanas. E disse pra mim mesma "hoje eu vou beber". Ninguém me ouviu, desta vez. Deveria ter dito isso ao lado de algum amigo, pois quem sabe, a razão alheia me faria estancar o que estava pra me acontecer. Mas não ouvi conselho algum. Comprei fichas de cerveja e começei a beber sem pressa, com liberdade, com vontade. A festa estava boa. Gente estranha, poucos conhecidos. A música estava ótima. Um sambinha sempre cai bem. Como diz Jorge Aragão, "tudo acaba em samba...". Se bem que tudo poderia acabar em forró, em pop rock, ou até em axé....creio que, naquele dia, qualquer som me caberia bem, tamanho o meu desejo de esquecer os problemas do cotidiano e curtir  uma noitada.
Ele me viu no balcão, trocando mais um ticket por outra cerveja. Eu já o tinha visto, logo na entrada. Parecia da minha idade, o meu 'top'. Cabelos grisalhos, sorriso largo, uma camisa branca, de malha, calça jeans e tênis. O cheiro que emanava era aquele perfume que amo, 212. Esse cheiro me envenena. Fico seduzida. Não precisava de mais nada para nos aproximarmos. Simplesmente sorrimos um pro outro. No momento seguinte, já estávamos íntimos, juntinhos na pista, corpos grudados, rindo de bobagens ditas sobre bobagens que sempre dizemos nessas horas. Ele me cheirou e reconheceu meu perfume. Disse ser o seu predileto. Ri da 'nossa' cumplicidade. Mais um encontro extraordinário. Pensei comigo: estava eu ao lado do meu príncipe, o príncipe daquela noite. Sabia que no the day after, nem nos veríamos mais. Eu de um estado, ele de passagem. Isso não me incomodou. Estava afim de diversão, não de casamento. Dançamos muitas músicas, trocamos carinhos, mais bobagens ditas ao pé da orelha. Me lembro sempre da música de Cazuza, nesses momentos. Saímos de lá, embriagados de desejos. Não me lembro do que ocorreu depois da nossa saída. Mas é fácil advinhar. Só lembro que não fechei as pestanas e cheguei em casa, inteira e com ressaca, quase ao meio-dia. E ele? Ah, o sapo ficou lá, dormindo, verde, gelado e roncando em seu brejo.