domingo, 11 de julho de 2010

Meu pecado vivia na piscina

Não houve jeito. Hoje, no final da copa do mundo, tudo conspirou para eu contar a história com o meu vizinho espanhol.
Primeiro porque o seu país, merecidamente, levou pra casa a taça do mundo, que já foi nossa. Depois li o post anterior, de uma das ordinárias daqui. Terceiro, liguei para outra ordinária para confirmar se já havia postado algo sobre esse europeu genuíno no blog. Após negar, ela concordou comigo. Tinha que ser hoje a vez dele por aqui chegar.
E, obediente, tentei me lembrar com riqueza de detalhes. Espero que apreciem, sem moderação, porque ficou comprida a narração!
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Vizinhos fazem parte da vida e da rotina de todo o mundo. Casa, apartamento, sítios, hotéis, no campo, no trabalho, no avião... basta estar de um lado ou de outro, embaixo ou em cima, eles estão por perto, pelos quatro cantos. Às vezes silenciosos, outras tantas ruidosos, e poucas vezes, para nossa infelicidade, extraordinariamente encantadores.
O meu caso com o encantador, e pedaço de bom caminho, teve início na beira da piscina, numa tarde de primavera, com o sol nublado, meio sem graça. Eu estava com uma amiga, parceira perfeita para aventuras de todo tipo. Suspiramos juntas.
Colocamos os óculos para melhor contemplar toda aquela expressão corporal, bem talhada, parecida com a dos jogadores que bravamente correram, caíram, chutaram, suaram e saíram vitoriosos, no final do jogo de hoje, contra os outros lindões da Holanda. Certo, preciso lembrar do juiz da partida, também, careca e lindo. Até os carecas de lá são extraordinários. Haja coração, hein Galvão?
Voltando ao "caso espanhol", de nome C. Esteban, nós fingimos que ele era qualquer um. Um transeunte. Nunca imaginei escrever essa palavra, muito menos no Extra, mas enfim, fingimos que ele era um transeunte. E ele puxou conversa. Nos revelou seu sotaque confuso, abrasileirado, apresentou seus dentes brancos, que mais pareciam os de uma propaganda de creme dental.
Conversamos bobagens, papos internacionais do tipo: no Brasil é assim, na Espanha é assado... nos pareceu um tanto exagerado, com ares de quem gosta de briga, meio pit bull, irado com as bandas de pagode e mais ainda com as indelicadezas e péssimos serviços de atendimentos do nosso país.
Enquanto ele praguejava, nós só fazíamos medir cada centímetro do seu corpo. Me faltou uma lupa, nesse momento...e sorrimos ao sol, se pondo e sem graça. E nos despedimos. Fomos almoçar e resenhar sobre aquilo tudo que contemplamos. Na saída pro shopping, o elevador parou no décimo andar. Eu sabia que era o dele. Eu sabia que era ele que entraria. Ainda mais bonito, mais espanhol, mais cheiroso, mais cheio de vida, mais apetitoso, assim, limpinho, de meias brancas. Nos olhamos, sorrimos, nos despedimos mais uma vez.
Logo entendi seus hábitos no prédio e a piscina passou a ser meu lugar predileto de visitação. Eu, ele, aquela água azulada e toda a minha fantasia me contorcendo.Neste dia, ele me disse que tinha açúcar, caso eu precisasse. Nessas situações, uma mulher extraordinária apenas sorri. Foi o que fiz. Além disso, mandei torpedo para as duas ordinárias. Comemoramos a paquera adocicada! Todas, surtadas, desejantes para saber o final desse climão, nascido entre essa temperada baiana e o temperamental estrangeiro.
Os meses se passaram.Ele viajou pra Espanha. Ficou três meses por lá, como o faz ano após ano desde que se mudou pra Bahia. E três meses foram exatamente o tempo, em que diariamente, eu passava na garagem pelo seu carro de câmbio automático, e repetia um mantra "delícia... ainda te devoro!"
Ele voltou, finalmente. E no mesmo dia nos encontramos na piscina, "o nosso cúmplice lugar". O sorriso dele era melhor que se refrescar com uma limonada, num dia quente do verão, que já se fazia presente, com seu sol, cheio de graça.
E o tempo passou. E eu decidi, no penúltimo dia do ano, ser uma boa vizinha, mas só para ele. Interfonei para lhe desejar um feliz ano novo. Na verdade estava a espera de um milagre. Um reveillon bizarro que tinha pela frente, com um paquerinha meio gay e sua família, tinha que ter uma véspera mais animadora.
O porteiro, sempre solícito, me disse: "senhora, ele saiu pra correr....quando voltar da corrida, darei o seu recado. " Eu agradeci, morta de vergonha, e me esqueci de esperar.
Não imaginei que ele fosse tocar a campainha duas horas mais tarde, já limpinho, mais bonito, mais cheiroso, mais espanhol que nunca, e fosse me perguntar, rispidamente, o que eu desejava falar com ele.
Não imaginei também que ele aceitaria meu convite para entrar, e que na minha varanda iria me tascar um beijo cinematográfico.
Muito menos que me arrastaria para (minha) cama, me faria entender, em segundos, porque é tão caliente e forte como os toureiros da sua região.
Ele se mostrou tão intenso quanto demonstrou ser o goleiro e capitão do seu time, quando o vi beijar a taça do mundo, que já foi nossa.
E claro, nos devoramos, intensamente. Promessa cumprida.
Por essa conquista, nada de fogos de artifício. Todas as vuvuzelas do mundo tocaram em sintonia naquela noite de veraneio do dia 30 de dezembro.
E como não acreditar em milagres? Eles existem sim. Papai noel também. Veja o meu presente. Chegou mais tarde, bateu em minha porta, quase (já) desembrulhado, só pra mim.

7 comentários:

  1. Perfeito, perfeito!!! Não tenho mais nada a declarar além disso!

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  2. Opa! Isso já aconteceu comigo! Eu fui bem espanhol... eu acho... hahahahah

    Ótima!

    Bejo

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  3. Amiga, você esqueceu de mencionar que ele tbm criticava o modo como dirigimos e o quanto achava as loiras da Bahia feias!!!
    Pelo menos elogiou o meu cabelo, disse que em Barcelona eu pararia o trânsito, hahahaha...

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  4. Muito bom!

    Vim parar aqui por indicação da Jusciney, que encontrou (muito bem encontrado) muitas semelhanças entre este relato e o meu conto. Este aqui óh: http://janeladecima.wordpress.com/2010/07/01/foi-desproposito/

    E, devo dizer, isso foi uma delícia de espan... digo, uma delícia de leitura! ;)

    Beijocas.

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  5. Uma extraordinária em apuros: Uauuuuu! Até transpirei depois dessa...kkkk... Agora tenho que encontrar uma história sobre vizinho. Ai, ai, só me lembro de um doido que cheirava a cigarro...rs... Tá bom, tá bom, vou fuçar minhas memórias. Adorei!

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  6. menina...sortuda...esse foi seu "espanish man"...dá-lhe vuvuzelas!

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  7. Beta. Essas três são umas figuraças...volta sempre! Já indiquei seu blog pra elas. Bj

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