terça-feira, 29 de junho de 2010

Um xodó pra mim

Primeiro decidir para onde ir. Depois com que roupa ir. Em seguida, já no cenário junino eleito, aguardar ser chamada para dançar, para quem dedicar meu olhar, com quem flertar, e por fim, com que pé de valsa forrozeiro mais me encantar.

Dessas várias decisões, a pior delas é, sempre, ter que esperar o convite pra dançar forró. Eu vou contar o que me ocorreu no último sábado, numa cidadezinha esquecida pelos deuses bonitos. Nunca me deparei com tantos homens feios, mal vestidos, com conversas fiadas pra lá de desencantantes (se esse termo existir), vestindo chinelos, fumantes, bêbados.

Diante do deserto, embora a praça estivesse insuportavelmente cheia de nada, de vento gélido, soltei minha imaginação nas músicas antiguinhas cantadas pelo aniversariante Gilberto Gil, que comandava as homenagens ao Menino Xangô, título dos festejos desse lugar recheado de machos esquisitos.

O cara polemizou, lá de cima do palco. Gritou alto: "bando de ignorantes". A plateia vaiou alto. Eu e mais duas ordinárias rimos muito, mesmo sem entender pra quem ele dirigia sua crítica ácida. Uma senhora, que catava os latões de 473 ml de cerveja, parou em nossa frente e praguejou: "o homem vem pra nossa cidade, e chama nós tudo de ignorante! ". Nós tudo? Como assim? Também sou?

Mesmo discordando do seu português duvidoso, concordei com ela. Ele poderia ter explicado melhor. Mas é que a polêmica era anterior à sua raiva.Briga travada entre evangélicos e os candomblezeiros de plantão. No palco, a decoração era toda com colares gigantes, de pedras brancas e vermelhas, misturadas com as comuns bandeirolas, das mesmas cores.

Diante do cenário, decidi desfocar das paqueras, claro. E quando Gil cantou "ainda me lembro do seu caminhar...", fui convidada para dançar com um senhorio de cabelhos brancos (não grisalhos e charmosos), que aparentava ser dono de umas 73 primaverinhas. Ele, saltitante, arregaçou suas mangas da camisa azul celeste, creio que para parecer mais jovial, e comecou a requebrar, como se tivesse alcançado a glória ao me embalar. Obviamente, sem nenhum molejo no corpo. Eu, incrédula, perplexa, dançei...não me restava mais nada a fazer, ignorante como me tornei nesse momento.

Dançei feio. O sujeito, de nome Arlindo Arnaldo, é administrador da igreja católica. Isso não é de fato extraordinário? Eu achei. E eu? Bem...devo ser de Iansã. E como vermelha que sou, "eu só quero um amor, que alegre o meu viver..."

Um comentário:

  1. KKKKKK...........AMEI SUA HISTÓRIA....QUEM NÃO JÁ PASSOU POR UMA SITUAÇÃO DESSA NA VIDA? HEIM?

    O MEU FOI 100 VZS MELHOR QUE O SEU....MAIS DE LONGE NAO FOI O MELHOR SABADO PÓS SÃO JOÃO....

    ADOREI...

    ResponderExcluir

Deixe algo extraordinário registrado aqui!