Desculpe, o título é falso: não estou desesperada, só quero manter a esperança acesa. A pressão é porque me inscrevi num site de relacionamentos e agora entrei no correio eletrônico e tenho 49 mensagens para dar conta. Simples assim. Cada mensagem possui no mínimo 3 perfis para eu analisar do homem que pode ser minha alma gêmea. Isso corresponde a cerca de 147 caras que gostam de ouvir música popular brasileira e estão disponíveis. Será?
Bem, não me lembro quantas outras características eu coloquei nos enormes questionários que preenchi no site. Abria uma folha com 30 perguntas e depois de responder todas o gráfico de avanço pulava de 10% para 11,5%. Sério, acho que levei uma tarde de domingo preenchendo essa salada e não acho que estou desesperada.
Fiquei um pouquinho surtada com tantos e-mails; claro que minha lixeira vai encher sem que olhe um só perfil. Você deve estar se perguntando: por que gastou uma deliciosa tarde ensolarada preenchendo essa porcaria se não quer jogar até o fim? Responderei: não sei. A solidão faz com que a gente se pegue fazendo coisas que não acredita, nos relacionando com quem a gente também não acredita, mas é fato: ela pesa demais, tecnicamente falando.
Ficar sozinha não é opção, mas pode ser também. Vi num filme esses dias um diálogo superbacana, no qual duas moças falavam sobre amores. Uma descreveu a outra como individualista, egocêntrica e indisponível, razão pela qual sempre procurava histórias onde os homens também não queriam nada com a hora do Brasil. Identificação instantânea. Sou isso desde minha primeira relação com meu namoradinho de 12 anos de idade, meio Romeu e Julieta, famílias inimigas coisa e tal. Depois só piorei: noivos, casados, morando longe, em relacionamento sério, até artistas, todos declaradamente indisponíveis. Segundo a teoria do filme, a personagem e eu sofremos com nosso jeito de ser determinante de um destino solitário.
E eu confesso logo: adoro dormir sozinha em minha cama. Quer mais indisponibilidade que isso? Pobre libriana extraordinariamente contraditória; sempre pesando prós e contras, acaba indisponível, mesmo para os perfis cruzados do site de relacionamentos. A pergunta deve ser: porque me inscrevi nesse site de relacionamentos se viver só me agrada? Também não entendo. Talvez o eterno olhar de estranhamento das pessoas "normais" para mim, por eu suportar a solidão sem reclamar (muito). No fundo sei a resposta do porquê esse tal site foi a opção da vez: a culpa é da Globo, a solidão pesa quando Faustão entra na telinha.