Viva, mas não sonha demais, Alice! |
Deve mesmo ser bom ser marinheiro. Imagina só: viver de acordo com a cultura, com os hábitos, sem amarras, sem âncoras, sem culpas. Se tiver de partir, partida autorizada. Se tiver de voltar, retorno autorizado. Ninguém cobra, ninguém persegue, ninguém acha estranho esse ir e vir.
Claro, a mulherada deve reclamar dos seus amores marinhos. Devem requisitar as suas presenças. Devem sofrer imaginando se eles de fato sustentam e validam a lenda de "paracadaportoumamor". Mas, venhamos, deve ser uma delícia ter essa liberdade consentida; poder desfrutar da liberdade de amar cada lugar, ou cada relação, como se fosse única, especial, pra toda vida.
Sei. Nada é para sempre. Há homens comprometidos que levam vida de marinheiros. Vivem as oportunidades que as baladas repetinas ou noites sombrias em filas de supermercados lhes presenteiam. E agem como marinheiros: contam suas histórias cheias de páginas arrancadas ou cortadas. Sugam as informações das alminhas carentes. E quando o dia amanhece, ou a fila termina, simplesmente desaparecem, saem à francesa, banalizando as situações extraordinárias que inventaram e se fartaram.
Não. Se eu fosse um marinheiro, talvez não enganasse ninguém. Talvez não quisesse validar a lenda de "paracadaportoumamor". Talvez alguém me ancorasse. Romântica que sou, não haveria outros mares a serem navegados ou conquistados. O meu amor teria jeito de homem normal, sem histórias, sem mistérios, sem saídas à francesa. E ficaria comigo, à beira-mar, em alto-mar, ou nas marés baixas, que somam a maior parte dos nossos dias.
Sendo ou não marinheiro, vamos cantar! Lamentar nem adianta muito. E está decretado: mar de lágrimas para nenhum marinheiro. Quem sai à francesa ou mente, não merece uma mísera gota d'água, muito menos dos nossos olhos.